terça-feira, 16 de novembro de 2010

HEMISFÉRIOS

Já ouviu falar do hemisfério direito e esquerdo do cérebro? A primeira vez que ouvi falar foi no G.I.T em 1991, através de uma aula de Joe Diorio, grande guitarrista de jazz, um monstro! Era uma aula com técnicas para desenvolver o lado direito do cérebro, o lado responsável pela criatividade e intuição, enfim, nosso lado artístico. Nosso lado esquerdo seria responsável pelo lado racional, analítico e matemático.
Segundo Joe, os músicos e artistas em geral que se destacavam eram aqueles com mais criatividade, daí a importância de ensinar técnicas que ajudassem no desenvolvimento do hemisfério direito do cérebro, ainda mais com nosso sistema educacional, todo voltado pro lado esquerdo! O paradigma científico ocidental é totalmente pautado na racionalidade, onde alguma teoria nova, para ser aceita, tem que ser provada matematicamente ou empiricamente, caso contrário, é descartada. Isso tem um lado positivo, pois deixa menos margem para o charlatanismo! Agora, será essa a razão da maioria dos cientistas materialistas serem ateus, pois como podemos provar Deus cientificamente, matematicamente?
Enfim, com certeza há coisas positivas na racionalidade, mas muito da desarmonia do mundo atual vem da supressão do lado intuitivo, do lado feminino, da sensibilidade e do coração. E isso na música é fatal, por isso vemos tantos músicos com técnica incrível, mas que não emocionam, que não demonstram criatividade e que apenas copiam os exercícios que aprenderam nas salas de aula, máquinas que executam com perfeição, mas sem emoção!
Como disse anteriormente, todo nosso sistema educacional é feito para criar máquinas de repetição, pois assim fica mais fácil manipular as massas! E na música não é diferente! Percebi isso quando voltei do G.I.T. e fui convidado para tocar na banda Pravda: muitas vezes um dos integrantes puxava um "groove" e imediatamente os outros, que não tinham nenhum estudo formal de música, iam atrás e deixavam fluir, criando improvisos maravilhosos! Enquanto isso eu ficava ali sentado, tentando analisar qual o acorde e o tom da música, qual escala ou arpejo poderia usar, segundo o que tinha aprendido na escola, e eis que a música acabava e eu tinha perdido o bonde....aí me toquei que estava na hora de desaprender tudo, fechar o olho, deixar meu ouvido ser meu guia e não ficar pensando ou racionalisando demais, pois na música, aquele pensamento linear estava me atrasando e podando minha criatividade! Aí entendi porque há tantos grandes músicos que nunca estudaram, mas faziam coisas marvilhosas, pois o ouvido e a intuição, e é claro, a emoção é tudo se tratando da arte dos sons!
Será que podemos fazer uma analogia entre os hemisférios cerebrais e o Ocidente e Oriente? Entre o Yin e o Yang? Noite e dia, quente e frio, alto e baixo, enfim, as polaridades...E qual hemisfério seria o melhor? Na verdade, a harmonia vem do equilíbrio entre os dois, e se um está ofuscando o outro, temos a desarmonia, que é o que vemos em nossa sociedade moderna.
Aí fui rever a letra de uma música do Rush que trata desse assunto, inclusive ocupando o lado A inteiro do disco Hemispheres, excelente, recomendo! Taí uma banda que acho que equilibrou muito bem o lado técnico com o emocional, talvez por isso se tornaram uma das maiores de todos os tempos e estão aí até hoje encantando gerações!! Por mais técnico que sejam esses músicos, nunca deixaram de estar CLOSER TO THE HEART!

2 comentários:

  1. nota 10, Kiko. essa coisa de ficar raciocinando demais às vezes nos faz mesmo perder o bonde. muito bem escrito o texto, também.
    abração

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  2. Muito bom Kiko. Curiosamente, estou estudando coisa parecida no mestrado. Minha dissertação vai ser sobre a entrada da racionalidade finalística (financeira, positivista) nas organizações do terceiro setor, historicamente politicas, humanistas e mais interessadas em missão que relação custo benefício.

    O problema da humanidade é o balanceamento dessas lógicas e toda a questão ideológica por trás. Medir é importante, mas a humanidade está descambando para algo chamado "quantofrenia". Então, as pessoas se converteram em um ativo cuja avaliação depende mais de como o indivíduo se comporta como fator indutor de lucro do que de suas virtudes humanas e mesmo técnicas. O sujeito, autônomo, emancipado, que deveria ser nosso objetivo como coletivo, é entendido como um problema nas organizações e sociedades. Há muito o que estudar e conversar sobre isso, com certeza. Parabéns pelo excelente texto!

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