domingo, 11 de julho de 2010

Ciência vs. Deus?


Domingo, acordei, tomei meu café, e fui pegar a revista VEJA na caixa de correio. Revista esta que gosto de ler para me manter atualizado, porém sempre leio com um "filtro", pois desde os atentados de 11 de setembro percebi o tanto que ela é tendenciosa.....mas enfim, abro as páginas amarelas e vejo a entrevista com o cientista Craig Venter, que ficou famoso por mapear o genoma humano, e leio essa frase dele: "É muito difícil ser um cientista de verdade e acreditar em Deus. Se um pesquisador supões que algo ocorreu por intervenção divina, ele deixa de fazer a pergunta certa. Sem perguntas certas, sem questionamento, não há ciência".
Creio que o grande problema aqui seja a forma como a ciência e as religiões estabelecidas interpretam o conceito de "Deus". A começar com esse conceito "intervencionista", como se Deus precisasse intervir na nossa caminhada. Então para que o livre arbítrio? De qualquer forma, essa é uma discussão polêmcia, que não costuma chegar a lugar nenhum. Creio que a fé em algo maior, de que existe uma inteligência universal em cada átomo do Universo, de que existe uma frequência vibracional de amor e luz contida em tudo, é uma conquista pessoal de cada um e que não pode ser imposta pela força, por argumentos racionais e inteligentes, é uma questão de sentir isso, de "feeling", de intuição! Assim como o fato de que ninguém pode sentir a dor do outro, o amor não pode ser algo imposto, é uma conquista pessoal de cada um.
Acabei de ler recentemente um livro bem interessante, do doutorado em física e filosofia Marcelo Gleiser: "CRIAÇÃO IMPERFEITA - Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza". Sua visão é bem racionalista e científica, mas rejeitando o radicalismo e fundamentalismo ateísta de gente como Richards Dawkins, que ele chama de "Rottweiler de Darwin". Gostaria de citar aqui algumas pérlas desse livro:
"...a crença numa teoria física que propões uma unificação do mundo material - um código oculto da Natureza - é a versão científica da crença religiosa na unidade de todas as coisas. Podemos chamá-la de "Ciência monoteísta". Será que essa busca faz sentido? Ou será que não passa de uma ilusão, produto das raízes míticas da ciência?"
"estamos longe de obter uma narrativa científica da criação capaz de ser empiricamente validada."
"Nossos triunfos e conquistas são imperfeitos e limitados como nós. É importante lembrar que o que importa não é chegar a verdades absolutas, mas ao conhecimento. Sempre existirão fenômenos que não poderão ser explicados por nossas teorias. Novas revoluções científicas irão acontecer. Visões de mundo irão se transformar. Infelizmente, vaidosos que somos, atribuímos peso demais às nossas conquistas."
"Minimizar a importância e o poder da fé na vida das pessoas é um erro grave. Aqueles que acham que a tecnologia necessariamente leva a uma sociedade cada vez mais secular deveriam dar uma boa olhada em torno."
"A ciência que criamos é apenas isso, nossa criação. Mesmo que maravilhosa, será sempre limitada pelo que podemos conhecer do mundo. E como nunca poderemos conhecer tudo o que existe, nossa ciência será sempre incompleta. Como um peixe, que não consegue conceber a totalidade do oceano, não somos capazes de conceber a totalidade da Natureza. Acreditar poder saber tudo reflete apenas uma ilusão."
Pois é, achei ele de um tremendo bom senso, e de uma humildade que não é comum se ver em cientistas com tantos títulos acadêmicos, doutorado na Universidade X, pós-doutorado na Y, etc. A ciência evoluiu tanto nas últimas décadas, tanto conhecimento, tanto controle sobre algumas forças da Natureza, que é difícil não subir a cabeça desses senhores. Mas o Dr. Marcelo mostra que alguns cientistas já estão acordando para o que há de mais importante: a preservação da vida no nosso planeta! Há trechos no livro em que o assunto fica muito técnico, talvez só para o pessoal da física, mas no final a mensagem que ele deixa é muito bonita e de extrema importância!
"nossos olhos e instrumentos só nos permitem enxergar até um certo ponto: permaneceremos envoltos numa escuridão perene."
"...existe espaço para combinar fé e razão. Temos apenas que ter cuidado ao definir "fé" como a crença em algo que ainda não foi comprovado empiricamente."
"...como vários exemplos na história da ciência nos mostram, o que hoje pode parecer sobrenatural ou fantasioso amanhã pode ser explicado racionalmente."
E finalmente ele nos deixa uma mensagem que nos faz pensar:
"O crescimento desenfreado da população mundial e das suas necessidades está causando a rápida devastação da vida e dos recursos naturais da Terra. Temos uma missão épica pela frente. Aqui sim somos uma espécie 'eleita'. Não por sermos miticamente conectados com o Universo, mas por sermos irreversivelmente conectados com o nosso planeta, o único abrigo da vida que conhecemos na escuridão fria do cosmo."
"Como, tragicamente, a história da civilização nos ensina que nações se unem apenas para combater um inimigo comum, vamos nos unir como membros da mesma espécie e lutar pela nossa sobrevivência. Este é o conflito da nossa era. Porém, ao contrário das guerras comuns, esta não tem o propósito de definir fronteiras ou credos. Esta é uma guerra entre o nosso passado e o nosso futuro, uma guerra onde somos nossos piores inimigos e nossa única esperança."